Crônica - Comuna de Paris - Manoel Messias Pereira


  1. Comuna de Paris

    Em 26 de março de 1871 em Paris ocorreu as eleições para o Conselho da Comuna. E dos oitenta e cinco candidatos eleitos, 21 deles tinham sidos pelas barricadas burguesas e mostraram-se inimigos da comuna e muito rápido abandonaram - a. Outros 30 candidatos eram operários, os demais representantes da intelectualidade democrática, entre os quais empregados, médico, professores jornalistas. E o Conselho representava com certeza o conjunto de setores do trabalho de Paris. E os operários desempenhavam assim o papel de dirigente.

    Geralmente quando procuramos ler a história deste período histórico e seu significado deparamos com a seguinte informação, é de que esse foi a primeira experiência de um governo operário da história ou a primeira tentativa da implantação socialista na França. E que teve início com a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana.

    E para tanto é importante que lembramos de que desde 1836 foi fundado em paris a Liga dos Justos por revolucionários alemães e de princípio participaram socialistas utópicos e socialistas cristãos orientados por Gracchus Babeuf e mais tarde nesta organização junta-se karl Marx, Friedrich Engels e Johann Eccarius.

    O lema da Liga era "todos os homens são irmãos e seus objetivos eram estabelecimento de Deus na terra", portanto fundamentado num idealismo purista de amor ao próximo . Em 1839 participaram da revolta dos blanquistas e outras lutas. Em 1848 uma ano marcado com a consolidação burguesa e o surgimento do operariado, ano do lançamento do Manifesto Comunista.  Até que em 1850 um espião chamado Wilhelm Stieber rouba os documentos e registros de todos da Liga e vai ocorrer uma série de prisões de operários por toda a Europa.

    Vale ainda lembrar de que em 1848, Luís Napoleão regressa à França após a queda do rei Luís Felipe, apresenta-se como candidato a presidência da república  em 1851, e vence as eleições. mas dá um golpe em 2 de dezembro de 1851 e assume Napoleão III, com poderes ditatoriais. E tudo isto vai ser analisado por karl Marx na obra 18 Brumado.

    Ressaltamos que em 1870 Napoleão III lançou a guerra contra os prussianos, um período em que muitos chamam de Belle Epoque, em que havia a consolidação burguesa em toda a Europa, mas os reinos prussianos estavam se organizando iniciando um processo revolucionário industrial e ameaçando a própria França no contexto histórico econômico e político. Mas os prussianos vencem os francos em em 4 de setembro 1870 chegou a Paris a noticia do desastre de Sedan e a capital francês teve o povo revoltado, invadindo o Legislativo e exigindo a república. A França vai criar um governo provisório. E vai buscar entregar armas ao povo pra salvar o Pais.

    E na noite de 17 para 18 de março de 1871, as tropas governamentais marcharam em direção às  colinas de Montmartre, situada na parte norte de Paris, com o objetivo de apoderar-se dos canhões colocados pelas forças nacionais. Ao amanhecer as tropas chegaram até Montemartre, depois de atravessar as ruas desertas da capital, sem ter encontrado obstáculo algum em seu caminho. dominaram os soldados das forças governamentais e congregaram a todos os operários, colocando a frente desta grande manifestação o comitê de Vigilância dos Distritos, e de toda aquela multidão acompanhada das mulheres. O general Lecomte deu ordem pra abrir fogo, mas os soldados juntaram-se aos operários. O general acabou sendo preso. Era Paris revolucionária o povo tinha dado uma demonstração de força e estava com o poder.

     E por isto foi importante essa eleição de 26 de março de 1871, e na obra literária "O Insurreto" escrita por Jules Vallés, que participava da Comuna consta "Que jornada esplendorosa! Um sol resplandecente e acariciador doura as bocas dos canhões; o perfume das flores, o sussurros dos estandartes, a torrente da revolução que flui serena e majestosamente como um rio azul. esse adejar, essa luz, o som das trombetas, o fulgor dos bronzes, a eclosão de tantas esperanças, a embriaguês da glória, tudo é motivo de orgulho e regozijo para o vitorioso exército republicano..." E no dia 28 de março foi proclamado a Comuna em ato solene e Paris consagrou assim o poder pela classe operária.

    Sabemos hoje que o final desta história foi de massacre contra  a classe trabalhadora, pois a burguesia francesa vai buscar reforço aos com seus antigos inimigos e lavar a praça de sangue dos trabalhadores, é a comuna durou setenta e dois dias, precisou lutar contra os versalhenses, mas vale ressaltar que nestes dias de poder houve o traçar de medidas econômicas, reajustes, trabalhos a todos um plano de produção organizados pelos trabalhadores e os que iriam ficar na administração, as oficinas estavam ainda a cargo dos antigos donos, só com um controle de preços dos trabalhadores, e ficava proibido os patrões de aplicar multas aos empregados. Outro grande momento foi a educação, ensino público e gratuito e obrigatório, aberta novas escolas e aumentaram salários dos professores. Plano de estabelecimentos de creche e jardins de infância para os filhos das operárias.

    O importante é que essa foi a primeira revolução operária. Alguns amigos vão dizer da falta de maturidade da classe  trabalhadora, e talvez a ausência de um partido revolucionário da classe trabalhadora. Mas tecnicamente essa experiência foi com certeza aproveitadas pelos camaradas russos meio século depois. O importante é agir semeando e construindo passagens de esperança pelo mundo obviamente sentidos pelas necessidades teoricamente e revolucionariamente.


    Manoel Messias Pereira

    cronista
    Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto

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