Artigo - A Mulher nos olhares dos romancistas brasileiros - Manoel Messias Pereira
Acima o autor de Tronco de Ipê um dos dos romances citados - Jose de Alencar
Acima Jorge Amado, autor de Gabriela Cravo e Canela- citado no texto
A capa do romance do autor
A análise que faço é com a intenção de trazer subsídios relativos a questão étnica, tratada nos muitos romances, ou ficções brasileiras que estampam os nossos livros. E isto permitem todos de fazer uma análise mais rica, seja em escolas, grupos de estudos ou universidades. Evidente, que num olhar contemporâneo, com dois autores românticos como José de Alencar e Joaquim Manuel Macedo e dois realistas como Aluísio de Azevedo e Jorge Amado..
Quando lemos "O Cortiço" de Aluísio Azevedo, ou Gabriela Cravo e Canela de Jorge Amado, o Tronco de Ipê de Jose de Alencar, ou a Moreninha de Joaquim Manuel Macedo deparamos com a utilização da figura da mulher como um objeto sexual.
Tentarei nesta oportunidade discorrer sobre alguns fragmentos, que alicerço pra estabelecer o que de fato estou afirmando.
No cortiço de Aluísio de Azevedo, ressalto o erotismo de Rita Baiana, na qual a personagem é narrada como a mulata, ardente, fogosa. Tem um ritmo de dança com sensualidade e consegue o delírio e aplauso de todos numa possível sedução.Foi assim com Florinda, o Firmo, o Albino e por fim o Alexandre.
Na frenesi de Rita Baiana, com sua química sensual também contaminou Jerônimo, e que permitiu fazer dele uma uma vítima. Em outras palavras ela apresenta-se como uma Pomba Gira.
Lendo um pouco Gabriela Cravo e Canela notei Nacib um sírio que frequentava a caso de tolerância de Maria Machadão. E lá dormia com diversas meninas como Mara, Raquel e a ruiva Natacha.
Quando conheceu Gabriela, Nacib contratou-a como cozinheira, mas encantou-a com a moça que do fogão, acabou na cama com ele.
Gabriela não fora como Rita Baiana, mas uma menina peralta que brincava e apertava o gato (animal). Dançava nas brincadeiras de reis.
Ela é só pura sedução, seduz os homens sim mas também fazia ciumes às mulheres ao mesmo tempo que agia como uma moleca.
Nos dois textos temos a ideia da sexualidade da mulher negra, mulata, que permanece estruturado no contexto da tropicalidade, da sensualidade, mas como uma anormalidade.
Quando lemos o tronco do Ipê, de José de Alencar, vemos conceitos alicerçados nos valores cristãos católicos e o pré-conceito bem demarcado com o estereotipo do negro.
Fala-se da imagem de Nossa Senhora, feito de barro e registra São Benedito. A Nossa Senhora encontrada no Rio jogada propositalmente e hoje cultuada como "negra" padroeira do Brasil, mas essa terra "Brasil", foi oferecida lá em Portugal a nossa Senhora e era preciso um milagre desde a Santa com o lodo e pelo tempo apareceu no rio negra. Ja a história de São Benedito tido como negro é uma forma de anexar o negro no conceito católico. E este conceito foi concluído. Porém ao citar as figas, os feitiços de várias espécies, o estereotipo no romance vai-se reforçando nas mandinga tidas como forças ocultas, que na verdade está relacionada com a tal espiritualidade, do transe coletivo dos cultos, o que para o autor é crendice, macumbaria (conceito eurocêntrico) cristalizado no País. E no romance há comentários sobre ramos secos de arruda e mentruz o autor reforça a ideia da crendice, embora hoje a ciência já admite essas plantas nas pesquisas de farmacologia. E há uma desmistificação deste eurocentrismo atrasado e estupido que tomou de assalto a nossa universidade.
Quando no romance Troco do Ipê, temos a fala dos ossos humanos, cascavéis e dentes de cobras, tudo isto reforça a ideia, do feitiço, do mal, presente no ser negro, e entendemos isto através do dualismo europeu de valores como o céu e o inferno, de Deus e o Demônio, entre o bem e o mal. São estes valores que permitem-nos o choque entre as duas culturas diferentes.Porém na essência a cultura negra não é dualista num princípio antropológico. E não há nem choque na dualidade européia e a visão africana, mas um único conceito da história, determinando o conceito do romance.
Ao falar do pai Benedito, fala-se do preto velho, passivo absorvido pela cultura portuguesa. E até o nome do velho negro já é São Benedito. E por fim temos a submissão negra na adoração aos santos católicos.
Já na Escrava Isaura de Bernardo Guimarães, fala -se do personagem Rosa exaltando a sua beleza, mas com um olhar erotizado, há comentários do corpo esbelto, dos lábios grossos e seios saltitantes. Guimarães vem reforçando a ideia do estereótipo da tropicalidade, e desta a questão do ser sensual e fogoso. E a ideia com certeza da loucura da anormalidade da cor morena, dizendo da beleza mas não havendo gotas de sangue africano. Talvez ele queira dizer escancaradamente ou as claras de forma branca que negros e negras não são bonitos. Daí penso que este romance traz a tona a necessidade de discutir a estética.
Em a Moreninha de Manuel Macedo, temos Tobias, um negrinho submisso, como um ser humano que não é humano, mas um animal amestrado, um cão fiel, vivo como um gato. Neste romance coitado, este negro perde a humanidade.
Dá pra concluir que os romancistas brasileiro todos foram hábeis nos estereótipos, negaram a voz e os valores culturais, antropológicos dos negros. e uma das forma de dominação de um povo é retirando sua cultura, destruindo o seu referencial religioso, sua ancestralidade que está negada. E se este é o conceito bíblico diz que o homem é a sua semelhança de Deus,neste caso o negro nem possuía alma.
Em Guimarães, a mulher negra é um mero objeto sexual, o reforço do estereótipo está bem acentuado neste contexto. E em Manoel Macedo, o mero perde a humanidade, e talvez são estes valores que permitiram a Igreja católica no passado autorizar a matança de negros dizendo que eles não tinham alma. E há um conceito de que estes seres saíram do inferno (África) viéram para o Brasil tido como o "Purgatório" e daqui vão direto para o (Paraíso) o Céu ou seja prometeram o a Paz depois de mortos. E isto podemos ver nos textos do Padre Vieira em seus sermões..
Em resumo pra dominar é preciso estabelecer fantasias estereotipadas bem apresentadas pelos autores, embora sejam ficções alicerça e bem numa realidade. E bem parece os três volumes de Dante Aligheri. É preciso refletir e entender a história também pela ficção.
Manoel Messias Pereira
professor de história, poeta cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto - SP. Brasil
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