Crônica - O teatro da Existência - Manoel Messias Pereira

O teatro da existência



Nossa vida parece um teatro, ou melhor uma peça constante em que somos apenas atores, e muitas vezes autores. Outras vezes pensamos que os autores são outros ou melhor somos dirigidos por outros embora há quem digas que é dono de seu próprio nariz, mas na verdade é mentira.



Uma peça pra ser encenada tem de ter ensaios, tem de ter compartilhamento, as vezes nem sempre os atores concordam com o diretor. Há aquele diretor que fica sentado pedindo pra você experimentar isto ou aquilo. E há aquele diretor, que grita que levanta. O ator em cena dança, rebola, passa maquiagem, bate, apanha, grita, chora, sorri, faz exatamente o que compõe o que está escrito.



E é do teatro penso eu que, as pessoas passa a elaborar a ideia do destino. de que todos nós temos que passar por isto ou por aquilo. Que devemos nascer, crescer, ser feliz ou infeliz, amar, desamar, ser xingado, destratado, casar ser estuprado ou estuprar, ser preso. Enfim ganhar asas para o mundo, ou ser presos numa gaiola, tendo o privilégio de ter um guarda chamado carcereiro ao seu dispor.

Mas no teatro, a vida é um espetáculo e a tragédia ou a comédia acaba justamente, no fim dos atos, e os atores vão pra frente da plateia receber os louro dos aplausos. Mas na nossa vida a coisa é diferente, se a nossa atuação ter qualquer deslize, pagamos um preço alto. Sofremos a consequência da realidade. Muitas vezes o ensaio de nossa vida é o comprometimento de viver ou de morrer. Não dá pra esperar outros sonhos. E nem de receber o aplauso.

Quando penso em teatro lembro-me em Shakespeare, recordo que o meu professor de ginásio, afirmava que todos que  assistisse a peça "Megera Domada", ganha ponto nas aulas de inglês. E como nunca fui muito bom na matéria lógico que  eu fui assistir. Depois disto voltei um dia no cinema e assisti a mesma peça agora na arte cinematográfica. Em outra oportunidade cheguei em casa muito antes de minha avó falecer, não recordo-me bem a época, somente sei que era bastante jovem talvez há uns 40 a 43 anos atrás, e ela assistia uma novela chamada o "Machão", que era  um "remix", usando uma palavra talvez inadequada para o meu português, da peça de Shakespeare. E num tempo não muito distante talvez de alguns anos atrás a televisão mostrou uma novela chamada "O cravo e a Rosa". E novamente senti que era nada mais nada menos do que a Megera Domada, que assisti pela primeira vez, tendo a professora  de inglês do colégio"Reny Cardoso" dirigida pelo meu professor de português Eduardo Vendramini. Mas a última vez que apreciei essa mesma peça, foi numa festa no clube do Lago, que pertence ao Sindicato dos Servidores Municipais de São José do Rio Preto-SP, e quem estava no palco atuando foi exatamente a minha bibliotecária preferida  da Biblioteca Municipal Fernando Costa de São José do Rio Preto -SP, dona Marciana, carinhosamente chamada de baronesa.

Portanto pelo tanto que assisti essa obra, vi como é eterno Shakespeare. E li um artigo do professor de literatura João Roberto Faria, publicado na folha de São Paulo em 1998,em que ele afirma, Shakespeare foi o autor mais encenado, lido e estudado de nosso tempo e embora ele tenha nascido em 1564 e falecido em 1616, o universo ficcional criou , de uma força poética e de uma força dramática inigualável e ainda hoje continua a encantar e nesta oportunidade ele cita outras obras do autor como Hamlet, Otelo , Rei Lear, Macbeth. E assim por diante. E neste contexto autoral eu penso no Brasil, e imagino quem seria o Shakespeare brasileiro entre todos os dramaturgos? E chego a uma conclusão, o mais dramático de todos os autores do Brasil foi Nelson Rodrigues.

E com certeza, Nelson Rodrigues escreveu e pois em atuação nos palcos, nos cinemas um conjunto de obras, que escancara a vida sem produção e sem ensaios, como "O casamento de Nelson Rodrigues", que coisa linda e trágica. Ou Bonitinha mais Ordinária, que realismo mais filho da puta do ponto de vista da arte, as Noivas de Copacabana, que insanidade que percorre a nossa vida no cotidiano, ou Me perdoa-me por te traíres, que desgraça linda é encenada. Outra coisa são as frase de efeitos colocados em cena, que mostra toda a cafajestagem como o machismo, os crimes sexuais domésticos hoje tão em voga nas crônicas policiais, basta ligarmos as tevês abertas a partir das 17 horas no Brasil, e prestar atenção em "Brasil Urgente" ou "Cidade Alerta", programas da televisão que retrata bem o olhar dramaturgo de Nelson Rodrigues.

E voltando para nossa vida, diria que sonhamos com Shakespeare, eterno romântico, ficamos a procura de uma história de Amor. como de Romeu e Julieta. E moramos e vivemos numa realidade Rodriguiniana. De bonitinha mais ordinária. com muita sacanagem inclusive política. e se alguém discordar é porque deve morar na ficção inglesa. Não acordou ou só vai acordar quando seu nome sair no programa policial.

A nossa vida é um espetáculo que inicia-se com a luz do nascimento. Em que todos dizem a fulana deu a luz. Veio e trouxe ao mundo alguém que ilumina a realidade com o seu olhar. como se fosse o Sol ou como diríamos os romanos "Mitra" o deus comemorado no final do mês de dezembro. Hoje ocupado pelos Cristãos como Nascimento de jesus Cristo. Ou seja uma festa pagã que se cristianizou-se. Mas voltando a vida real a pessoa faz uma série de peripécias, briga, rouba balas, beijos, casam-se, entregam-se aos chamados vícios, da bebida, da comida, do exercícios, do sexo, dos costumes. E com o tempo como a luz, aos pouco vai, vai e apaga-se.

 E lembrando da luz, vamos entender isto, outro dia na Universidade vi uma palestra de uma professora, confesso que o nome dela era Vanessa em que ela dizia da" Absolescência da Mercadoria", em que ela chamou a atenção de que uma lâmpada teria uma vida útil, assim que foi elaborada por 10 anos, e precisou adequar-se ao mercado ou, e portanto de 10 passou para 5 de cinco para 2 e depois até a 1 ano de existência depois ela queima. E nossa vida na verdade é assim enquadramos numa realidade em que consta a previdência, os serviços médicos, os seguros sociais pagos, ou seja tudo está mais ou menos calculados pra uma pessoa passar pela vida. Depois  as próprias células do corpo do indivíduo vai sofrendo um desgastes. E acompanhando isto a consequência dos alimentos gordurosos, as modificações genéticas dos transgênicos, o resultados dos venenos  utilizados de forma indiscriminadas no campo. Exatamente senão compram venenos o agricultor não recebe financiamento, ou tem pouca produtividade. E assim espalha o câncer, a desgraça em todos os lares, com anuência e consentimento do Estado. Chega o momento em que a luz  da vida,se apaga, em que a lua esconde no céu de tristeza. E o final é exatamente isto, o corpo volta para a terra e fica a ideia de que a alma irá para o céu. E um abraço.


Manoel Messias Pereira

poeta e cronista
São José do Rio Preto -SP. Brasil




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