Crônica - As festas juninas da minha infância - Manoel Messias Pereira
Toda a festa popular, traz lembrança de nossa infância. A data de São João também traz. Um tempo em que os bairros de São José do Rio Preto não era asfaltados, um tempo em que a cidade era pequena e que quase todas as pessoas se conheciam.
A festa geralmente era feita na rua ao lado de uma fogueira, em que as pessoas traziam mandiocas, batata doce, e colocavam ali para assar. A minha avó dona Ana recordo que trazia uma chaleira com quentão, a minha mãe estourava pipoca, ou amendoim torrado, e todos ficavam conversando coisas sem importância vital, para a transformação social, científica, ou patológica do país. a conversa girava em torno de mitos, de piadas, assombrações, em crendices. E entre elas a ideia da moça que está encalhada e precisa casar, como faria pra arrumar marido, ou a simpatia de ir saber quem será o futuro namorado ou namorada. Se havia a lua cheia ou não na noite de São João, ou que a noite mais fria era do dia 24 a 25 de junho e ficavam apostando. Ou seja coisa bobas. Mas todos se divertiam.
Eu tinha um tio Sr. Mané que todo o ano fazia a fogueira e ficava apostando quem passava descalço nas brasas ardentes. Obviamente que vi muita gente que passou aqui ali, mas na verdade não vi nenhum maluco passando. E eu ficava torcendo pra ver isto e guardando todas as minhas forças para rir com toda energia ao ver alguém queimar os pés. Mas não ri nenhuma vez, isto creio que enquanto era garoto não cheguei a ver.
Outro ano organizavam quadrilha nas ruas e a comunidade do bairro toda vinha prestigiar e ajudar a organizar a festinha era bandeirinhas, balões, creio que vi alguns malucos soltando balões e o povo todo correndo atrás pra pegar, vi gente caindo em buraco. Outros sendo atropelados, o bairro era escuro. E muita gente gritando. A bobagem que eles contavam que quando o balão sobe a vida de quem sobe vai pra frente, se cai vai tudo mal. Obviamente que é crendice. E o que realmente acontece é que quando um balão cai, ele pode é fazer um estrago causar um incêndio, causar prejuízos materiais e a vida das pessoas.
Outra coisa que ocorria nas festas juninas em São José do Rio preto eram as brincadeiras de salão, tinha a do lenço. tinha a brincadeira do beijo e do abraço. Brincadeiras por demais inocentes se comparamos com os dias atuais, mas que a juventude reunia-se, alegrava-se os ambientes das casas.
Entre as crendice para arrumar namorados, contava se a lua no dia de São João for cheia deve-se colocar uma bacia com agua no terreiro e a solteirona deve ir nua e mergulhar naquela água fria. Bobagem a pessoa vai é ficar gripada, e talvez ache um namorado como farmacêutico que atendia nas residências.
Nas danças de quadrilhas nunca ensaiadas, todos vestiam-se como um caipira estilizado. Parecia bem palhaço, como aliás ocorre hoje, com um detalhe hoje esse São João, tem na sua festa o papel do cowboy, que era uma figura que não identificava com essa festa. E havia quadrilha e o casamento caipira as vezes, vinham numa carroça. E alguém vestido de padre elaborava o casamento numa sátira bem engraçada . E até numa crítica social velada aos casamentos em que as pessoas juram amor eterno e acabam dentro de alguns meses.
São João era tempo de fogos e observavam nos pouco prédios da cidade pessoas que gastavam fortunas, mas enfeitavam a cidade, com fogos, estrelinhas rojões morteiros. Nas ruas soltavam o busca pés, o traque o chamado peido de velha, as bombinhas e os famosos fogos de cor. A roleta colorida. Diziam que os fósforos de cor era para criança, soltaram um e caiu na roupinha de minha irmã de apenas dois aninhos causando queimaduras.
Mas não era só crendice, havia também o terço o beijar o santo. Como a minha mãe era de terreiro havia aquela ideia da chamada linha do oriente, previsto nas linha da Umbanda. E lá ia ela fazendo a saudação, de Ogun e cantando. "Olá São João do Oriente, salve o povo cor de rosa, a fé e a caridade...", coisas que com o tempo tudo vai modificando-se. Hoje já se faz festa junina, mas nem se lembra do santo. Lembra-se da comida e do dinheiro arrecadado que deva ir pra d'aquí ou pra ali. Até mesmo em escola pública desprovida de verba graças ao assalto que os governos que fingem que governam promovem, a comunidade unem-se para ter um crédito e a cumprir com as suas necessidades do ensinar e aprender. Uma vez que estamos num sistema capitalismo, precisam do capital, se não há repasse de verbas. É a comunidade preenchendo a função que deveria ser do Estado.
E assim temos como eu tenho grata lembranças desta data. Algumas reflexões e críticas afinal a vida é um projeto de respeito permanente a nossa presença neste mundo. Não dá pra passar por aqui sem objetivamente fazer os nossos apontamentos, dizer de nossos desejos e estabelecer uma linha de conduta que possa fazer uma outra pessoa feliz. E a todos que essa noite tenham o céu todo estrelado e seja realmente de muita paz e felicidade.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP.
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