Cronica - Falece a camarada Carmem Pereira - Manoel Messias Pereira

Camarada, Carmem Pereira
Presente
Falece a camarada Carmem Pereira


As vezes penso que a vida é de compartilhamento social a todo o custo, mas também imagino o sentido de viver como arte e o sentido de morrer um recomeço, como as ondas do mar, que vem e que vão, e sempre mantém ativamente o rumor das ondas.

Neste último sábado que passou dia 4 de junho de 2016, faleceu aos 79 anos  a ex-guerrilheira, guineense Carmem Pereira, combatente pela independência da Guiné Bissau, a primeira mulher a assumir a presidência de um país africano. Uma mulher de luta com certeza. Ativista e militante do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Carmem Pereira, Teodora Gomes, Francisca Pereira ao fundo Amílcar Cabral.

Lutou pela libertação de seu país e depois em 1961 lutou pela Independência do mesmo, quando nesta oportunidade o seu esposo precisou sair do País por estar sendo perseguido pelo PIDE, a Polícia Internacional e de Defesa do Estado, organização de orientação fascista, responsável pela repressão de todas as formas as oposições ao regime, e que funcionou de 1945 até 1965. Mas o valor histórico de Carmem, foi bem visto no PAIGC, que através do presidente  Amílcar Cabral, que estabeleceu um programa de destaque a luta das mulheres em 1966, em Guiné Bissau e Cabo Verde. E desta forma descaram pessoas como Carmem Pereira, Teodora Gomes, Francisca Pereira e Titina Silla, essa última assassinada por militares portugueses em 1973, quando ela regressava  do funeral do Presidente Amílcar Cabral.

Vale ressaltar que o Presidente Amílcar Cabral é reconhecido pela historiografia como  um dos mais brilhante,  inteligente e criativo de todos os dirigentes da luta pela libertação do povo africano, além de um poeta de primeira grandeza. Ele sempre dizia que poderia ser morto por homens de seu grupo político. E é assim que aconteceu três homens do PAIGC, provavelmente pessoas infiltradas que o assassinaram, próximo de sua casa em Conacri, na época o presidente tinha 48 anos. Em outras palavras ele já pressentia que isto pudesse ocorrer.


O general Antônio Spínola governador posto de Guiné-Bissau tinha escolhido dois alvos preferenciais para abater. Eram Nino Vieira e Carmem Pereira. E para uma melhor lembrança vamos aqui recordar Nino Vieira, que chamava-se João Bernardo Vieira, conhecido também como Kabi Nafarnlahamna e foi presidente por três vezes da Guiné Bissau, mas durante a Guerra Civil, foi expulso voltando em 2005, quando candidata-se e vence as eleições, peça chave na Guerra de Guerrilha contra a soberania de Guiné Bissau por Portugal. E em 2009 acabou sendo assassinado quando uma explosão mata o chefe do Estado maior e o presidente morre a tiros.

Já a história de Carmem Pereira, mostra que ela foi presidente do parlamento de Cabo Verde e Guiné Bissau de 1975 a1980, e em governos posterior foi Secretaria de Saúde (1981 a 1983), e Secretario para Assuntos Sociais de (1990 a 1991) E neste sábado ela esteve no Palácio do Governo numa ação de solidariedade para com o Governo Demitido a 12 de maio pelo presidente José Maria Vaz. Após voltar para casa quando teve uma indisposição a uma hora mais tarde acabou falecendo.
camarada Carmem Pereira.

A vida é como a arte que assim como a filosofia, é uma interrogação inacabada e incessantemente retomada, como escreveu Michel Ribon, na qual eu empresto a suas  palavras quando ele fala das forças vivas da natureza e a aventurosa liberdade do ser humano, a arte portanto não pode morrer. Tal como, incessantemente recomeçado, o mar sempre fará ouvir seu rumor. Carmem não morreu eterniza-se na história de Guiné Bissau para servir como exemplo como num retrato de um grande pintor como Rembrandt,  que além da morte continua a nos olhar no infinito de nossos entendimentos numa consciência reflexiva.


Manoel Messias Pereira

professor de história, cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil
São José do Rio Preto -SP.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poesia - Consciência social _ Manoel Messias Pereira

Poesia - No capitalismo é assim - Manoel Messias Pereira

Poesia - ferro - Luis Silva Cuti