Crônica - Sonoridade Sagrada e Profana - Manoel Messias Pereira

Sonoridade sagrada e profana


Escute os sons da vida. Eles estão nos cantos dos pássaros, na ternura dos ventos, na alegria das borboletas na procura das flores, na leitura da existência, na concepção de um destino.

Atenção, para todos os eventos, que correm na natureza e conosco. Há terremotos em algumas partes do planetas, há pessoas que correm, que sofrem que choram e há os que morrem. A morte também faz parte da vida.

O som da morte é o silêncio. Não existe a ausência do som. Não existe a pausa. Existe um som traduzido no respeito, no ambiente fúnebre, que pode ser celebrado, com o som das lágrima, que lavra os olhos, que escorrem pela face. No momento em que a tristeza toma nós nos braços, e nós só temos, cântico fúnebre no silêncio da dor.

As vezes parece que falamos em código, em parábolas. Embora não somos profetas bíblicos, não queremos interpretar os eventos naturais, não queremos trazer boas novas. Apenas entender os mitos e os ritos de passagem. Os mitos podem ser compreendidos como uma instância capaz de pôr o homem em harmonia com a totalidade do real.

Quando tratamos do som dos tambores, lembramos dos atabaques,  dos adjás, o xeré, o agogô, observamos que esses são instrumentos utilizados nas casas religiosas. E entre os atabaques há o Rum, Rumpi e Lê. Deles saem os toques para cada Orixá. Assim temos para Oxalá, temos o bate folha, cabula. ijexá.  para Ogun o barravento, cabula, congo de ouro ijexá, muxicongo. Para Xango o barravento, cabula, congo de ouro, muxicongo. Para Oxóssi, barravento, cabula, congo, ijexá mugicongo. E assim por diante verás que há uma síntese dos toques mais comuns.

Os seres afrodescendentes foram chamados por muito tempo de batuqueiros, por usar o som, a dança nos seus ritos. E há uma frase já muito conhecida que diz, "não acredito num Deus que não dance. " Mas a ideia é a afirmação de uma cultura afro no Brasil. E para tal basta verificar a quantidade de negros que compõem a sociedade brasileira.

Dentro dos cultos afros, no momento fúnebre há a dessacralização. É que na iniciação ocorreu a sacralização. Portanto no final da vida devemos ter a inversão, no sentido da liberalização do orixá protetor do corpo da pessoa. Consulta-se os búzios para saber os destinos dos objetos separados da pessoa que faleceu . E observa-se se o destino é positivo pra uma pessoa escolhida, estes objetos devem ser lavados em água sagrada e entregue aos herdeiros. em caso negativo os objetos devem serem colocados numa trouxa, colocados num balaio embalados num lenço descartados conforme o oráculo. E segue uma celebração de  três a sete dias de cânticos.

Mas na Umbanda um culto brasileiro. Não há ritos de passagens. Não há incorporação do Orixá. Trabalham sim com as falanges de Orixás, fazem a cabeça. E não tem a imposição do Adoxu. E a reclusão neste caso é feita de três a sete dias, com instruções isotéricas. Em que aprende-se a rezar, pintar pontos riscados e pontos cantados. e por um tempo a Casa fica fechada. O cânticos são para despedida . E neste caso canta-se para Oxun- maré, Omulu, Obaluaiê, Nanã e Ogun. Todos devem vestir-se de branco a cor do nascimento e da morte. E para Xangô canta-se depois da entrega do carrego no ritual do arremate. E fecha -se o terreiro por um ano.

Ah, mas pare. escute. Há sons na vida e da vida. E não há somente o som do silêncio. A ternuras saltitantes como dos pássaros que cantam nas árvores, há vida no barulho dos insetos, nos ventos que sopram de um lado para o outro. Há verdes em homenagem a Ossaim, a fauna e a flora, em homenagens a Okê, Oká, e há todos os outros mitos da vida na floresta. Há sons de vida nos rios de Oxun, no Mar de Yemanjá. Há sons em todas as coisas e lugares. Há sons em homenagem a vida. Essa vida em que respiramos esperanças e procuramos compartilhar de esperanças, ternuras, e respeito mútuos entre todos os homens e toda a natureza.

  Natureza, bela, gentil ternura da vida, que ao cantar com suas chuvas, com seus ventos sagrados, com seus pássaros coloridos, cantam sempre. E sempre nos encantam. como um apelo pra nossa Unidade. E é uma pena que poucos entendem assim.


Manoel Messias Pereira

cronista
São José do Rio Preto -SP. Brasil







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