Cronica - refletindo sobre o Movimento Negro - Manoel Messias Pereira
Cronica - Refletindo sobre o Movimento Negro - Manoel Messias Pereira
Refletindo sobre o Movimento Negro
Ao dar início a qualquer estudo que mostre a ação do movimento negro, 
que utilizam de uma rede imensa para dar conta de todas as demandas 
porque passa a população brasileira,temos que ater a própria história do
 Brasil e a presença do ser humano que foi trazido do Continente 
africano para à América e aqui acabou sendo escravizado. E depois disto 
jogado as ruas pela elite quem não deseja mais tratar com seriedade e 
respeito esse trabalhador, e foi extremamente infeliz em criar zonas de 
exclusão social como se fosse políticas públicas.  Sendo assim inúmeros 
problemas sociais vão surgindo acumulando-se e paralelamente a esse 
desprezo da elite dominante, vem carregado do preconceito social e 
racial, do processo de discriminação e do racismo propriamente dito e 
isto leva o povo brasileiro afro - descendente há uma luta imensa pra 
poder sobreviver com um pouco de dignidade. E ainda hoje temos o racismo
 estrutural, nas instituições e um tratamento jurídico e social muito 
aquém de que tem poder de resolução. As nossas instituições são sim 
severamente punitivas e pouco social.
O que Octavio Ianni vai dizer "Sob a condição de escravo, o africano 
passou por um processo de aculturação forçada, subalterna e organizada 
segundo os interesses político-econômicos exclusivos da casta dos 
senhores", frase essa que reflete nas palavras do professor Florestan 
Fernandes, quando ele afirma que " o negro foi exposto a um mundo social
 que se organizou para os segmentos privilegiados da raça dominante."
Essa classe dominante que no passado foi formado pelos grandes 
proprietários de terra formando a aristocracia brasileira. Essa elite 
que possuía um poder que muitas vezes extrapolava as fronteiras das 
propriedades. A palavra destes aristocratas tinham força de lei e 
contestá-la era um abuso imperdoável. Esses senhores que tinha o poder 
social mas também dominava o poder político. E assim basicamente 
tínhamos uma sociedade patriarcal em que inclusive a mulher era uma 
subordinada ao homem e considerada inferior. E em geral deveria ser 
jovem e casar com um homem bem mais velho.
Interessante como sempre voltamos ao passado, recentemente um Revista 
não muito séria do ponto de vista político pois tem um viés golpista, 
estabeleceu que a nossa atual primeira dama temporária era uma mulher 
bela recatada e do lar. Ou seja uma mulher jovem e casado com um senhor 
presidente bem maduro, como era no passado. Mas voltando ao tema que nos
 move. é na Casa Grande que esses senhores usavam de expediente como 
abusos sexuais permanentes nas mulheres crianças independente do sexo 
numa sexualidade pervertida e  sadomasoquista e dizia que a culpa era 
lubricidade da raça negra.
Almanaque como da Abril Cultural traz que os primeiros africanos 
chegaram por aqui por volta de 1532, porém no livro de José Francisco 
 de Assis ele escreve "não sabemos precisar o momento em que desembarcou
 o primeiro negro no Brasil" Assim como o ser humano negro os indígenas 
também servirão para trabalho escravo, pela forças das armas, ou seja 
serviram a um sistema desconhecido em locais como São Vicente , 
Maranhão, Pará. Assim se deu a primeira classe de trabalhadores, negros e
 indígenas sem condições de barganha com a classe dos senhores de 
escravos. E sobre isto a nossa literatura é bem recheada de falsidade 
 ideológica, e expressões preconceituosas e racistas, como eles não 
reagiram a escravidão.
Em meados do século XV o tráfico de seres humanos se mostrou altamente 
rentáveis, e o processo escravocrata se fez necessário para a manutenção
 do tráfico negreiro, e assim traficantes africanos abastecia o reino e 
as possessões ultramarinas. A Igreja católica aplaudia e ainda ganhava 
20% com os negócios de seres escravizados segundo o livro do jornalista 
Júlio José Chiavenato "O Negro no Brasil" E a justificativa da Igreja 
era que o tráfico era um veículo para a conversão à fé crista do negro 
africano.
E assim o negro tinham os seguintes direitos, "pau" para andar na linha,
 "pano" para vestir e "pão" para aguentar o trabalho. Existe assim uma 
falsa ideia de que os senhores cuidavam bem de seus seres humanos 
escravizados, pois as condições na qual observa-se nas contabilidades 
destes senhores negros eram tratados como semoventes ou seja animais e a
 crueldade a marca dominante.
E a reação a tudo isto temos as primeiras lutas dos afros - descendentes
  que foram criando formas de sair deste inferno como condições de vida 
humana, daí experimentaram o suicídio, as guerrilhas, as insurreições, 
assassinatos de feitores e senhores. Haviam fugas individuais e 
coletivas e com isto a formação de quilombos. Quilombo que é uma 
comunidade organizada por negros na luta por sua liberdade, esses 
redutos constituíam uma resistência negra contra o processo 
escravocrata.
Quando veio a abolição da escravaturas, o ser humano foi posto nas ruas,
 e toda sorte e desgraça passa a fazer parte de seu cotidiano, Era 
constitucionalmente proibidos a ler e escrever, mas a sua sobrevivência 
era quase que subversiva. Alguns historiadores dizem que haviam planos 
na monarquia para indenizar os afros descendentes, mas veio a república 
com a questão militar, veio a questão religiosa e os negros foram 
submetidos a uma nova elite, herdeira da velha aristocracia.
Hoje lutamos por uma conscientização humanizada, estamos diante de 
pautas internacionais que aponta uma violência imensa contra os afros 
descendentes jovens num genocídio praticado pelo próprio Estado, temos a
 violência contra os núcleos religiosos de matrizes africanas, temos um 
tratamento desumano e cruel com a utilização do que chamam hoje de 
injuria racial, que na minha opinião de leigo é a tentativa de lidar com
 o racismo, ou mesmo o preconceito e a discriminação como se fosse uma 
contravenção penal, como aliás era a lei Afonso Arino e sabemos que o 
racismo é crime inafiançável e imprescritível portanto não há fianças. 
Porém temos uma estrutura racista inclusive com servidores públicos não 
estabelecendo um olhar apurado sobre a Lei Caó que regulamenta a nossa 
atual Constituição, e portanto desqualificando quem procuram os órgãos 
públicos para reclamar.
E recentemente com o governo Temer, temos no Ministério da educação um 
representante do DEM, partido que sempre declara-se contra os 
quilombolas. Porém temos uma Lei 10639/2003 e uma Lei 11645/2008, que 
trata da questão da história do negro e de sua luta no Brasil, porém 
sabemos do poder da ideologização neste contexto liberal do século XIX. E
 diria que o Brasil anda de marcha ré, pois a questão racial sempre foi 
uma bandeira preocupação formal, lembrando que durante a ditadura de 
Emilio  Garrastazu  Médici, tivemos o Decreto 65810 de 8/12/1969, 
ratificando o que Promulgava a Convenção Internacional sobre a 
Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial da ONU assinada em
 7 de março pelo Brasil ratificada em 27 de março de 1968 e entrando em 
vigor em 4 de janeiro de 1969.
Sabemos que todas as convenções e Legislações são formalidades, e para 
serem cumpridas necessitam de pressões sociais. Mas o sociólogo 
 Florestan Fernandes quando ele dizia "O que pretendemos, para o nosso 
futuro imediato e remoto, não é a fixação imobilista dos dois polos, 
separando negros de um lado e brancos de outro, mas que o mundo dos 
brancos dilua-se e desapareça, para incorporar, em sua plenitude, todas 
as fronteiras do humano, que hoje apenas coexistem "mecanicamente" 
dentro da sociedade brasileira". Com isto concluo essa reflexão 
importante, para o Brasil e sua crônica cotidiana.
Manoel Messias Pereira
Cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil

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