Poesia - Teresa - Viegas Fernandes da Costa


Tereza

Teresa baixou os olhos, mirou seus seios.
"São meus!" - exclamou.
Desceu as mãos. Perdeu-se
"Meu deus!"
Teresa desceu a saia, o pudor. Desceu os pelos, a pele. desceu tudo seu.
desceu as escadas à rua. Desceu à praia, ao mar.
"Sou eu"
Desceu tanto, entretanto, que desceram todos, os outros, à rua, à praia.
Desceram palavras como pedras, desceram rebentos à carne. Disseram-na feia, disseram-na velha, disseram na vulgar.
Teresa não disse nada!
Lavou os cabelos, longos e negros. Lavou-se toda por fora, por dentro.
Lavou-se inteira Teresa.
"É Teresa!" - explicavam. Sempre há quem chega tarde.
"Sou eu!"
Lavou-se ao avesso, estendeu-se em nudez. esparramou-se um seio, outro também. Toda flacidez, as coxas luziam, os braços, o ventre.
Teresa sorria!
"Meu deus!"
Já plena e lavada, Teresa subiu à praia, à rua, às escadas, ao povo reunido que a acercou:
"Então? - perguntou.
Não houve pedras, não houve palavras. Não houve nada!

Desde então todos sabem: Teresa é mulher, e toda manhã cruza a cidade ao mar, nua, toda ela, pêlos, pede prazer. Toma seu banho, estende seu corpo e volta pra casa.
Teresa é mulher invejada


Viegas Fernandes da costa

história e escritor
servidor da Biblioteca  de Blumenau

Blumenau - SC - Brasil


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