100 anos da Guerra do Contestado


Guerra do Contestado
Iniciada em outubro de 1912, na Região Sul do país, a Guerra do Contestado foi um conflito armado que opôs forças do governo (federal e estadual) e sertanejos que viviam na região disputada pelos estados de Santa Catarina e do Paraná. Estendeu-se por 4 anos, até 1916, e estima-se que tenha deixado mais de 10 mil mortos.

Com ampla cobertura da imprensa da época, os jornalistas, militares e cronistas se referiram ao conflito de diversas maneiras: guerra santa, guerra dos fanáticos, guerra dos jagunços, guerra sertaneja, movimento do contestado, ente outros títulos. A origem e a longevidade do conflito foram atribuídas de imediato à “ignorância” e ao “fanatismo” dos sertanejos que viviam na região em disputa e se reuniram em torno do monge Zé Maria para resistirem à modernização em curso.

Ao longo desses 100 anos que nos separam do início da guerra, os estudos sobre esse emblemático movimento de resistência foram se renovando e trazendo a lume novos e sensíveis elementos para a análise do episódio. Se os primeiros estudos se limitaram à compreensão do conflito a partir da ignorância, do abandono, da miséria e de uma consequente desqualificação dos valores do mundo rural, a partir da década de 1970 começaram a surgir vigorosas pesquisas que procuraram investigar o universo cultural e político daqueles homens, seus rituais de devoção, a formação da irmandade cabocla e das cidades santas, suas lideranças e seu desejo por um novo mundo. Inicialmente classificada como uma “revolta alienada”, o movimento passou a ser observado pelos pesquisadores como reflexo de demandas em sintonia com a realidade política e social de seus atores.

Também ganharam força as abordagens que se detiveram sobre a presença ostensiva do capital estrangeiro na região, como a atuação da Brazil Railway Company na construção da estrada de ferro São Paulo-Rio Grande e a instalação daSouthern Brazil Lumber & Colonization Company para a exploração comercial madeireira e para a colonização dessas terras. Esses empreendimentos causaram enormes impactos no cotidiano da população local, entre os quais podemos citar a desapropriação de terras, a expulsão de moradores de seus locais de origem e as mudanças nas relações de trabalho. Outro agravante foi o enorme contingente de desempregados que se fixaram na região após o final de algumas obras. Somam-se a essa conjuntura a instabilidade política nacional e internacional do período, a necessidade de reafirmação do exército brasileiro, o interesse e a atuação dos coronéis locais, entre outros aspectos fundamentais para entendermos a enorme gama de transformações que ocorreram na Primeira República no Brasil
Convidamos vocês a navegarem por este dossiê e conhecerem um pouco mais sobre o Contestado, visitando o arquivo pessoal de Fernando Setembrino de Carvalho, general que comandou o exército brasileiro entre 1914 e 1915, e que está depositado no Cpdoc. Além da seleção das fontes, que conta também com um trecho do depoimento de Henrique Teixeira Lott – que participou do conflito quando integrava o 56º Batalhão de Caçadores (56º BC) –, concedido anteriormente ao Cpdoc, realizamos entrevistas com dois especialistas no assunto, o pesquisador e professor universitário Paulo Pinheiro Machado e o cineasta Sylvio Back.
Na seção Para Saber Mais há indicações de diversas teses e dissertações recentes, algumas disponibilizadas na íntegra, além de uma seleção de filmes e links para arquivos cujos acervos podem contribuir para pesquisas sobre o tema. Esperamos que este dossiê possa servir como um primeiro guia para os interessados no assunto, apontando caminhos possíveis para novas pesquisas sobre o Contestado.

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