Crônica - Escrever na Areia - Manoel Messias Pereira



Escrever na areia

Eu nunca escrevi frases de amores nas areias, eu nunca passei por um grande sonho de amor em minha  em minha juventude. Eu sempre vi as aventuras que os colegas inventavam pra mostrar-se mais sedutores do que eram e eu ficava imaginando  e perguntando -me será que eles falam sérios?

A verdade é que eles fantasiavam um sonho , e os meninos desejavam só impressionar as meninas. Um dia li uma frase que me fez pensar, e essa frase dizia "o ser humano pra se realizar precisa plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho." E essa frase é intrigante, pois vivendo numa conjuntura totalmente desfavorável, em que nasci de um lar, em que o pai vai embora, deixa a mãe com três crianças pequenas e no dia que ele foi havia apenas meio quilo de feijão, um meio quilo de farinha de mandioca e um quilo de açúcar. Precisamos desocupara a casa em que morávamos. E essa era a nossa despesa para mais quinze dias até minha mãe poder receber da roupa que ela tinha lavado, e passado, num ferro de brasa, e eu pensava que loucura. Essa frase deve ter sido feita por alguém que nunca teve uma mãe e um pai com as condições que eu tenho. Por uma pessoa que nunca foi negra trabalhadora. E digo isto porque vivo no Brasil, e este é um país que teve uma herança de um  processo escravocrata e até hoje o processo de violência, que saiu das fazendas, foi pra rua das cidades, e continua fazendo vítimas. A juventude negra tem sofrido um verdadeiro massacre em termos de genocídio, praticado pelo próprio Estado, no seu serviço de segurança, que mais parece atos de terrorismo social. Quando não criminaliza todas as instituições populares que lutam por casa e uma vida digna numa sociedade de capitalismo extremado em que tudo é caro e o salário a miséria infinita.  Vivemos sim essa violência cotidianamente. Somos vítimas dos desrespeitos sociais, somos frutos de uma sociedade forjada, sobre os maus tratos as pessoas negras, aos indígenas, aos obesos, as mulheres, temos uma sociedade que precisaria revestir-se de ética, do contrário as maiorias das frase escritas soam como frases de amores escritas nas areias. Ou seja vem o mar e apaga. Não há registro de respeito, somente violência.

Teorizando um pouco a frase um pouco, como alguém que precisa sair de uma miséria pelada, sem eira e nem beira, numa sociedade escrota, hipócrita  e preconceituosa, cheia de vícios coloniais, em plena aventura contemporânea, fala que de que  precisa ser  um plantador de árvore. Quando até mesmos as prefeituras municipais na suas ações desmedidas, sem nenhum pudor violentam as praças derrubam árvores, ou não cuidam das que estão nas vias públicas e que mereciam ser cuidadas. Quando não mantem parques e praças com arvores mas que nem identificação, nem nome científico tem sem o menor constrangimento, com a falta de educação destas porcarias dos poderes então constituídos e estou falando de todas as cidades do Brasil. Em que o desrespeito com o ensino fundamental, para a vida  deveria deixar de ocorrer e eu não estou apenas frisando escolas mas sim tudo, ruas praças, centros comunitários, centros esportivos, centros culturais e tem prefeitura com dois ginasiozinhos contando vantagens quando  deveria ter uma rede de bons exemplos mas não tem isto por safadeza   nas esferas dos poderes constituídos,  mas não todos agem como se fossem canalhas, pessoas desqualificadas para os seus cargos públicos. E inclusive há prefeituras que não contratam nem biólogos para os seus quadros educacionais. E não falo de educação formal não mas do processo informal, em que nas ruas, nos parques nas praças  deveriam ter um processo de informação maior do que temos atualmente, pois o que temos é o pleno vazio desde então e sempre estabelecido.

 Eu  e o Jose Augusto Hidalgo que hoje mora em Uchoa-SP,  na nossa infância plantamos uma árvore na escola. E neste dia estava eu usando uma calça curta emprestada do Murilo e a camisa do Zé Luis o Zé Capeta, ele deve bem lembrar disto. Pois nem roupa eu não tinha, o que tinha uma camisa rasgada e um short remendado.  E a arvore que plantamos  foi derrubada para a construção da Diretoria de Ensino. Para o bom registro. Mas naquela época havia o professor que colocava o nome científico das árvores e explicava a importância da mesma assim como a classificação botânica  mas foi naquela escola e só.

Já escrever um livro é bicho de sete cabeça. Primeiro só virei escritor de teimoso. comecei a participar de todos os concursos que aparecia, e desde de pequeno tinha uma coisa como ia conseguir escrever sem máquina de escrever, e sem nada. E quando ia pedir para emprestar uma máquina geralmente as pessoas olhava com a cara fechada com desconfiança, querendo me expulsar, me xingar me mandar pra pro inferno. E eu menino negro acanhado dizia que desejava só escrever uma poesia. E já vi alguém falar vai escrever na zona, no inferno, neguinho idiota. Mas foi assim que um dia recebi uma menção  honrosa, depois  outra apareci num livro, e fui colocando minhas poesias nas portas das lojas e por fim conheci os cadernos negros já adulto, e enfim virei escritor de teimoso. Mas quem escreveu aquela frase não sabe de onde tiramos forças pra suplantar todas as misérias possíveis.

Já ter filhos, basta casar. Casei aos 25 anos e tive três filhos, com dona Eunice e passei a sentir realizado. O duro também foi educar, estudar e ensinar os meninos e a menina que este mundo há violências gratuitas sobre ao nossa integridade física e moral, que como pessoas negras vamos cotidianamente questionada sobre os nossos comportamentos, e que todos eles seriam vítimas desta sociedade de hipócritas. E que há pessoas como uma série de pastores que dizem que somos os amaldiçoados por Noé, que as nossas crenças ou as que vieram do continente pela qual os nossos ancestrais foram trazidos não é disto ou daquilo, ou seja tem canalhas travestidos de bons cristãos, que dizem que os negros são frutos do demônios, e tem um governo estupido no Brasil, que na sua falta de pudor de vergonha de ética de desrespeito social, provoca o desconforto e dão concessões de TV, rádios à essas porcarias que falam em nome de um Deus e usam uma bíblia. E pedem dinheiro feito uns desgraçados, mas só vale lembrar que é mais fácil passar um camelo no buraco de uma agulha do que esses (pastores) ricos  ir para o céu, portanto ninguém deve alimentar essas cobras.  E apenas estou colocando assim pois sei das implicações de dores e violências que isto causa são de um proporção incalculável.


E por isto é que eu nunca escrevi frases de amores nas areias, eu nunca passei por um grande sonho de amor  em minha juventude. Eu sempre vi as aventuras que os colegas inventavam pra mostrar-se mais sedutores do que eram e eu ficava imaginando  e perguntando -me será que eles falam sérios?

E a conclusão é que eles queriam só causar um impacto. Eram jovens mentirosos. E se os que não melhoraram na sua índole tornaram tão hipócritas e canalhas que talvez nem dá pra expressar numa crônica pois do contrário ofenderei a humanidade. Ah sem esquecer, que o padre Jose de Anchieta falavam na escola que escreveu o poema a Virgem na areia. É se ele escreveu o mar apagou. Agora o pastor, cantor e senador candidato a Prefeitura do Rio de Janeiro Marcelo Crivela, diz que virou o novo Padre Anchieta e também escreveu na areia as suas   fantasia religiosas. Penso que sabiamente o mar apagou, pois a natureza tens seus rompantes, do contrário a vida é risível. E vamos sorrir.


Manoel Messias Pereira

cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP.




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