Crônica - Ah! Democracia. - Manoel Messias Pereira
Ah! Democracia .
Ah, democracia, quantas gente que se prende no teu cantar, e quanta gente sai as ruas querendo expressar -te, mas sem saber que a um Estado a espreitar, tentando fazer calar, as pessoas que defendem ponto de vista diferente desta instituição burocrática, formatada ideologicamente e chamada de Estado.
No regime ou sistema de organização política em que a voz do Estado é o bem maior é o fascismo e isto está em quaisquer livro de história escolar. E o chefe do estado é infalível é o comandante, como Hitler ou Mussolini. Mas o que vejo hoje no Brasil, é a ação do estado muito parecido com o contexto da extrema direita hitlerista. As pessoas saem as ruas na intenção de expressar seus sentimentos e indignações sobre a situação política e econômica, ou quando não da própria instituição educacional estatal na qual estuda ou trabalha e é rigorosamente reprimida e a abordagem feita por agentes do Estado é de violência e de força desmedida. Pois as pessoas são portadoras de um corpo humano e de seus direitos individuais e coletivos e sua consciência social. Mas são violadas em seus direitos de manifestar diante da brutalidade que se estampa nas ruas. Há uma criminalização das manifestações e isto é extremamente nocivo a todo e qualquer sentimento humanista.
E quando abordamos quaisquer temas que fale da expressão livre do pensamento, dos cantos, das poesias, das letras dos jornalismo vamos encantados na certeza de que vivemos numa democracia, quando na verdade penso que esta precisa mesmo é ser construída. Pois o tipo de democracia que apresenta-se este país é de plena mentira. E um estado feito sob o signo da mentira da enganação, da violência é sim um Estado sem caráter, sem respeito, sem quaisquer dignidade expressa nos sentimentos de humanidade. É triste observar isto.
No Artigo V da Declaração dos direitos Humanos consta que tortura, e o tratamento cruel, desumano ou degradante contra qualquer tipo de pessoas não são tolerados" Porém na cidade de São Paulo, nas últimas manifestações houve jovens sendo arrastados pela ruas, houve uma pessoa que levou estilhaço de bombas e perdeu uma visão, houve prisões arbitrárias, e confesso que jamais imagino e tenho certeza que isto não é nenhuma forma humanística de tratamento social que deva ser oferecida ao seu próximo seja ele quem for. E quando a polícia ou autoridade pública age com sua carga de violência sobre um cidadão, um ser pensante dando um tipo de tratamento que é degradante, ela está totalmente desamparada do que é legal perante o contexto das Declarações das pessoas humanas.
Seja por quais crimes for, a tortura anula o torturado e isto pode se ver no livro do jurista João Batista Herkenhoff, que foi professor da PUC, um mestre com pós doutorado na Universidade de Winsconsin - Estados Unidos da América. Assim aquele que tortura está abaixo dos animais, e podemos classifica-los como monstros. Pois os animais apenas lutam para a sua sobrevivência. e uma fera na floresta mata o outro animal para poder sobreviver, comer.
Quando um ser humano comete um delito, é uma falta individual, de um ser humano na sociedade, já os castigos cruéis, praticados por agentes públicos do Estado, pagos com o dinheiro público, de impostos cobrados até mesmo do torturados, revela-se um delito muito mais grave neste contexto, porque o ato é usado sobretudo com os instrumentos e recurso deste mesmo Estado, que deveria em tese dar proteção aos seus cidadãos, acolhimentos mas faz tudo bem ao contrário.
Numa canção católica, cujo a música foi escrita por Jo Akepsimos, há uma letra intitulada "Au Jardin des Droits de l'Homme", e que hoje faz parte do Hino da Ação dos Cristãos pela abolição da Tortura, "O anônimo submetido a tortura ele será esquecido? não terás ninguém para escutá-lo? No inverno das resistências, que ser humano pode suportar? O vento frio de nosso silêncio mata o grão que quer desabrochar".
A tortura é um instrumento de terror e não pode e não deve ser praticada por ninguém individualmente ou coletivamente, e nem mesmo por instituições como a família, e tem pessoas que disse esse é meu filho e vou fazer isto ou aquilo. Pois bem há uma interpretação errada por parte desta pessoa, pois educação se dar pelo respeito e pelo amor, como dizia Paulo Freire, aquele que não ama não educa, pois o amoré a comunicação íntima de consciências que se respeitam. Nem mesmo por escolas, pois a ação escolar é instruir, para nutrir de conhecimentos, fazer da criança e dos jovens seres portadores da dignidade e sujeitos de direitos. Nem mesmo por hospitais psiquiátricos, pois ali as pessoas são pacientes e precisam ser tratadas para suprir as enfermidades que acometeram ao estágio de doentes. E assim seja médicos, professores, pais todos precisam estar afinados com o humanismo, e o respeito ao processo educacional voltado a ética do compartilhamento aprazível e saudável entre todos os seres humanos.
Os religiosos seguidores de Krishna, diz "O ser humano deve viver neste mundo como folha de loto, que cresce na água, mas não é humedecido, por esta, assim deve viver com um Deus em seu coração e nas mãos o trabalho. Mas os Vedas na crença dos vedantas diz" O ser humano é um pequeno barco numa tempestade, levantada num momento sobre a espuma cristal de onde ergue pela boca do abismo rodando de um lado a outro a mercê das boas ações em naufrago, desamparado e impotente na tempestade implacável corrente de causas e efeitos". Sendo assim este ser se torna um pequeno verme posto em baixo de uma roda de causação que gira esmagando tudo que se acha em seu caminho sem fazer o caos das lágrimas. E neste contexto que os seres humanos envolvidos precisam do Ministério Público agindo na luta e na defesa destes seres que estão na boca deste abismo, o que mostra o fascismo brasileiro. Pois o direito que sempre é recorrente quando existe em tese a propriedade como um bem alienável, e disposto em pé de igualdade com a liberdade, e a fraternidade. Porém aquele que tens apenas seu corpo e sua consciência precisa ter o direito de seu lado do contrário. O direito nada serve para a dignidade e o respeito do ser humano.
No livro de Stella Maris Rezende "A filha da vendedora de crisântemos", consta um pequeno texto assim "Porque um homem compra crisântemos/Não é um homem qualquer/não é um simples homem que traz o dinheiro e leva flores/mas é um homem destinado ao ato de amar. Pois bem não ficamos esperando na praça, nas avenidas nas manifestações aparecer esse homem com flores nas mãos e com o respeito devido ao seu próximo, vivemos o capitalismo, e neste sentido o que há é competição, e todas as regras existe o mercado pra regular, e isto toca a política, toca a ação governamental, que degrada o ambiente, que retira verbas da educação e da saúde, que reduz investimentos nos seres humanos portadores apenas de seus corpos e tens as mãos no trabalho. E ficam expostos a todos tipos de intemperes das violências cotidianas, inclusive, do próprio Estado, que lhe oferece serviços públicos de qualidades reduzidas, de atendimentos inoperantes, quando não terceirizados, em que há pessoas sendo contratadas mas sem garantias de seus direitos sociais integrais. E isto não está posto para a discussão direta, para um processo democrático em que a população sinta-se numa ágora grega, mas sim num parlamento que não representa a massa da população. Embora eleitos, não foi feita uma formação intelectual em quem votou nunca. Por isto outra forma de pensar precisa ser estabelecida, pra mim o poder deve ser das massas, do povo que precisa sim questionar o modelo politico existente, que infelizmente não responde nunca aos anseios imediatos e nem futuros desta população.
E a população precisa ser livres em suas manifestações, e o respeito e a garantia desta liberdade, precisa ser expressa, numa organização social popular. E com todo o respeito devido a organização política que hoje ocupa os postos de comandos e poderes. Fascismo, nazismo, parece que são valores proibidos por nossa constituição. Embora exista uma caracterização, de monitoramento e repressão expressa, nos comandos de quem deveria oferecer a simples proteção aos cidadãos, mas o que vemos a ideia de manter a ordem de calar as vozes, para apenas permanecer a voz do Estado como um bem maior como fazia os estados nazista.
E com isto observo a degradação do processo democrático que deveria avançar mas que debulha, dilui -se em tristeza. Como nos ensinam os vedantas "a alma é eterna e imortal, perfeito e infinito, e a morte só significa uma mudança do centro de um corpo a outro, mas o presente está determinado por ações e o futuro depende do presente. A alma continuara a desenvolver-se ou retrocederá." Mas existe uma necessidade humana que é viver, e viver plenamente antes do estágio da alma, oferecida pelos religiosos. Assim lembro por isto a minha indignação com essa democracia de mercado. Ah! democracia, sem o poder popular, é só uma mera ilusão.
Manoel Messias Pereira
cronista, poeta, professor de história
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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