Crônica - A docilidade da existência - Manoel Messias Pereira
Se cada ser humano caminha a procura de seu próprio destino. Cada ser
humano entende que passa a vida observando o caminho, lendo e entendendo
a paisagem. Mas sabendo que seus passos precisam serem traçados no
tamanho exato de suas pernas, no alcance de seus objetivos mas certos do
que nos caminhos há armadilhas a pedras colocadas, há espinho, embora
há também flores.
Sempre e sempre penso na Paz. E percebo que as
vezes penso sozinho num canto. Vejo uma dificuldade imensa para juntar
com outras pessoas para falar da Paz, que sonhei e que podemos construir
de forma compartilhada, ungida no mais puro vinho branco, com queijos
provolone. Porém o que domina os noticiários não é a guerra intensa
hoje, mas as ações conhecidas como de terror, em que há grupos que
utiliza uma dominação religiosa de forma fictícia e passa a fazer
vítimas, como ocorreu na França neste 2016, no dia Nacional do País,
quando todos comemorava o Dia da Tomada da Bastilha, enquanto todos
esperava os fogos veio o caminhão desgovernado, veiculo esse alugado por
Mohamed Lahouaej, na quarta feira dia 13 de julho, e invade o espaço
atropelando e explodindo, talvez se detonando e fazendo mais de oitenta
vítimas fatais. Esse caminhão em alta velocidade avançou no Passeio dos
Ingleses em Nice e foi atropelando todo mundo, ha quem informou que foi
um pesadelo em que as pessoas voavam. Neste veiculo com Mohamed Lahouaej
havia armas, granadas e espingarda. A policia cravou o caminhão de
balas.
Sabemos que fatos assim representam a dor e o horror que
acabam obscurecendo a compreensão das pessoas . Porém todo o horror
parte de ações premeditadas, racionais, e os atos de violências são sim
conscientes, embora possam parecer cruéis, sórdidos. Em tudo há uma
lógica, e isto não significa que compreender isto resolve alguma coisa,
ou melhor dá a dimensão de que estamos num mundo sem nenhuma proteção.
Não há anjo da guarda guiando os nossos passos, cada um está sozinho,
lendo e entendendo a paisagem.
Na subjetividade dos fatos
encontramos a leitura de países ou povos que vivem em seus territórios
e, que pensam e desejam a redivisão do mundo em vários pequenos estados
sobre a suas óticas. São estes povos que detém o poder das econômico,
que permite o acesso as fábricas de materiais bélicos, entendendo sempre
que construir uma metralhadora, uma granada, não é construir um rojão
pra soltar numa festa. Mas sim pra matar, e machucar pessoas fisicamente
e também psicologicamente.
E é interessante sempre fazer essa
leitura pois se lembrarmos do processo político do Apartheid, digamos
era moral e economicamente aceitável do ponto de vista do sistema
capitalista, conforme dizia Antonny Tuke, presidente do Conselho
Administrativo de Barclays. Porém estava errado e quem pensava de forma
contrária, foi considerado subversivo, socialista ou coisa assim. Ou
seja para a elite o apartheid estava legal. Quando imaginamos o período
em que haviam pessoas escravizadas no Brasil, havia leis determinantes
pois tudo era legal. Ou seja a violência ela não é algo imoral e sem
ética ela faz parte de um sistema, político e econômico.
Como
dizia o filósofo Epicuro, "Antes de mais nada, nada, provem do nada por
que então tudo nasceria sem necessidade de semente. E, se se dissolvesse
no nada tudo o que desaparece, todas as coisas seriam destruídas
anuladas as partes na quais se descompunham". Em outras palavras as
razões existem para os acontecimentos sejam eles em tempo de paz,
terrorismos ou guerra. E essas razões na sua grande verdade parte do
poder político e econômico. Não existe como falar de poderes sejam eles
econômicos e políticos buscando não associá-los. Os sistemas políticos e
a conformação econômicas parte do mesmo princípio.
Porém uma
frase que gosto de Epicuro e que trago sempre comigo é quando ele disse
"É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que prendemos
mediante a intuição mental". Ou seja eu não vejo em todas as paisagens
sejam elas de dor ou de prazer todas as respostas e indagações do meu
entendimento do mundo, mas tenho intuições que nasce de forma canônicas
ou da teoria do meu conhecimento.
A vida precisa ser de extrema
docilidade, temos que ater aos prazeres, temos talvez um intervalo
pequeno neste convívio com o outro. Intervalo que dura muitas vezes
menos de cem anos. Não dá pra apenas passar, com o objetivo de refrear
os nossos abraços, de não entender o prazer da carne de não refletir o
incomodo da existência de seres que convive na leitura de um mundo
apenas preso na sua individualidade político e econômica. E que
estabelece a barreira, a segurança mas desejam a insegurança de todos
ou de um coletivo. Alimentando os fogos das guerras com o prazer da
gasolina como combustível, para cessar as chamas.
A docilidade
epicurista precisa ser extrema, e servir a filosofia, as conversas, o
encontro de festas felicidades, de leituras poéticas, dos prazeres as
mesas, nas camas, nas leituras do olhares. E mantendo a ruptura com tudo
aquilo que é brutal é triste é sem graça.
O meu próximo é e deve
ser o mapa que me guio para um encontro feliz, aqui na terra
experimentando o olhar, a paixão, a leitura da sensualidade, entendendo
que nem sempre o que vejo ao olhar é verdadeiro, mas também sabendo que
o entendimento passa mediante a intuição mental, ou seja eu penso e
logo existo. E se cada ser humano caminha a procura de seu próprio
destino, cada ser humano passa observando o caminho lendo e entendendo a
paisagem. Aqui vamos encontrar armadilhas, pedras, flores e também
espinhos. E até um caminhão desgovernado, que vem pra acabar com a festa
de nossos sonhos. Mas com a docilidade extrema podemos caminhar
juntos, podemos conversar juntos, podemos ser felizes juntos, podemos
encontrar a leitura do mundo um no olhar do outro, vem me dê as suas
mãos, a vida é curta e a felicidade talvez não possa esperar.
cronista, poeta
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil.
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