Programa cuida da saúde de escolares de Monte Negro, Rondônia
Programa cuida da saúde de escolares de Monte Negro, Rondônia
Objetivo é identificar e tratar fatores de risco para hipertensão, diabetes e problemas cardiovasculares
Por Valéria Dias - Editorias: Ciências da Saúde
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São quase 1.500 escolares entre 6 e 16 anos, moradores da área urbana, em Monte Negro, Rondônia. Até o final deste ano, os pesquisadores da USP devem avaliar todos eles para identificar, de forma precoce, a presença de obesidade, sedentarismo e síndrome metabólica (que tem como características a cintura acima de uma certo diâmetro associada a colesterol alto, excesso de açúcar no sangue e pressão arterial acima do normal). Essas condições são conhecidos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares e vários tipos de câncer.
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Os pesquisadores pretendem oferecer um tratamento que possa reverter a predisposição para essas doenças. Esta é ideia central do Programa de Saúde Escolar, coordenado pelo professor Luís Marcelo Aranha Camargo, do ICB5, posto permanente de ensino, pesquisa e extensão do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP em Monte Negro, Rondônia.
O Programa começou com a pesquisa de mestrado da biomédica Juliana Camargo, da Universidade Federal de São João del Rei, em Minas Gerais. “A ideia era analisar a presença desses fatores de risco em crianças e adolescentes da região amazônica”, conta o orientador do trabalho, o professor Aranha Camargo.
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Os pesquisadores analisaram 499 escolares com idades entre 6 e 16 anos no segundo semestre de 2016, entre os 1.500 da área urbana de Monte Negro. Os participantes foram sorteados a partir de uma lista fornecida pelas escolas do município, que fica a 250 quilômetros da capital Porto Velho e tem cerca de 15 mil habitantes.
A equipe de alunos de Medicina que faz estágio e internato no ICB5 realizou as medições dos participantes: altura, peso, pressão arterial, cintura abdominal, além da coleta de sangue para exames laboratoriais e a verificação da prática de atividade física pelas crianças e jovens. Apesar de o foco ser DCNTs, também foi avaliada a presença de anemia, parasitose, problemas de visão e saúde bucal.
“Os resultados nos deixaram assustados”, relata o professor Aranha Camargo. “Encontramos 30% de obesidade, 30% de sedentarismo, 5% de hipertensão, 9% de intolerância a glicose [uma condição pré-diabética] e 30% de dislipidemia”, conta.Uma das crianças foi diagnosticada com diabetes tipo 1 e não estava sendo tratada com insulina. A doença pode causar cegueira, amputação de membros, problemas renais e até coma. “Então fizemos uma estimativa pensando nos 7 mil alunos das áreas rural e urbana e concluímos que a cidade deve ter outros 6 escolares nessa mesma condição. Mas onde estão eles?”, questiona Aranha Camargo.
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Exames em 7 mil alunos
Diante desses resultados, os pesquisadores decidiram avaliar a saúde
de todos os 1.500 escolares da área urbana, dando origem ao Programa de Saúde Escolar
de Monte Negro, pautado no programa de mesmo nome criado pelo
Ministério da Saúde em 2007. “Para o ano que vem, queremos incluir a
zona rural, avaliando, deste modo, todos os 7 mil escolares da cidade”,
destaca o professor. As avaliações dos alunos da área urbana já
começaram: até o momento, cerca de 1.200 crianças e jovens passaram pelo
programa..
Camargo comenta que o sistema de saúde local não tem condições de dar assistência aos alunos em relação às doenças crônicas não transmissíveis. Nas escolas também não há um rigor no oferecimento de aulas que envolvam atividades físicas. E a alimentação oferecida, com bolachas e sucos, têm muito açúcar. “São condições que levam a adultos e idosos com essas doenças”, destaca.
Apesar da existência dos fatores de risco e de doenças crônicas nessas crianças e jovens, o sedentarismo em Monte Negro ainda é menor do que em outras regiões do Brasil. O professor cita uma pesquisa realizada com escolares em Lins, no interior de SP, onde foi encontrado o índice de 70% de sedentarismo. “Isso ocorre, curiosamente, pela pobreza em Monte Negro. Em Lins, tem transporte público, vans escolares. Em Monte Negro, não. Os alunos vão para as aulas caminhando, usam bicicleta. Mas as condições de saúde poderiam ser melhoradas caso as escolas tivessem outra postura. Por exemplo, numa das escolas, a quadra de basquete está sem tabela, aro e cestinha.”
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Segundo Aranha Camargo, a Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP vai cuidar dos casos mais graves de alunos com problemas bucais, dentro da Expedição Monte Negro do Projeto FOB USP em Rondônia, que ocorre neste mês de julho. E os alunos com problemas de visão serão analisados por especialistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) por meio de uma parceria mantida com o ICB5.
Mais informações: e-mail spider@icbusp.org, com o professor Luís Marcelo Aranha Camargo
Acompanhe nas próximas semanas a reportagem especial sobre o ICB5, em Monte Negro, Rondônia.
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